
CONHEÇA OS FATORES QUE INFLUENCIAM O NOSSO CONSUMO DE CONTEÚDO DIGITAL
Nos últimos anos, o consumo de filmes de super-heróis tem crescido exponencialmente, assim como as obras que abordam crimes reais. Mas por que ficamos semanas, ou até mesmo meses, aguardando a estreia de um filme nos cinemas ou em alguma plataforma de streaming, sendo que poderíamos simplesmente encontrar o conteúdo escrito em uma HQ ou em um documento?

Se tomarmos como exemplo o Universo Cinematográfico da Marvel, os fãs não apenas esperam o lançamento de um filme, como também consomem durante esse período diversos vídeos sobre teorias, reassistem algum conteúdo já lançado e estabelecem novas ordens para rever os filmes e buscar pelos famosos "easter eggs".
Utilizando uma técnica conhecida como "cliffhanger", os estúdios cinematográficos gostam sempre de deixar, ao final de um filme, pistas sobre o que pode acontecer em uma possível continuação.
Este elemento, que traz consigo um fator de suspense, normalmente nos deixa angustiados para saber o que vem a seguir. É o caso das cenas pós-crédito presentes na maioria dos longas-metragens.
Um exemplo que pode ser dado é o da cena pós-crédito de Homem-Aranha Longe de Casa (2019), em que assistimos a identidade do Amigão da Vizinhança sendo revelada por Mysterio.
Não bastasse isso, a cena ainda revela o retorno do ator J.K. Simmons no papel de J.Jonah Jameson, dono do jornal nova-iorquino "Clarim Diário", e que apareceu pela primeira vez na franquia do aracnídeo em Homem-Aranha, filme de 2002 protagonizado por Tobey Maguire.
A volta de J.K. Simmons mostra aos fãs que o Multiverso está sendo introduzido ao MCU. Isto também pode ser presenciado nas séries WandaVision e Loki, produções lançadas respectivamente em janeiro e junho deste ano no serviço de streaming Disney+ .
Contudo, mesmo que os novos espectadores estejam agora roendo as suas unhas para saber o que vem a seguir neste universo de filmes e séries, o conceito de Multiverso não é novo para os fãs das HQs.
Isto é porque se trata de um conceito que apareceu pela primeira vez nos quadrinhos em 1977, através da revista What If...?.
Não por coincidência, a HQ acabou de ganhar uma adaptação animada, que estreou na Disney Plus no dia 11 de agosto de 2021.
Por Ana Michelon

Imagem: Divulgação/Walt Disney Studios Motion Pictures
Por que esperamos pelo filme?
Ao observarmos uma pessoa jovem, é nítida a preferência dela por filmes ao invés de livros. Pelo menos é isso que diz a pesquisadora dos Estados Unidos Maryanne Wolf, escritora do livro “Cérebro no Mundo Digital: Os Desafios da Leitura na Nossa Era”, que realizou um estudo intenso sobre o impacto da digitalização na leitura.
“Os ambientes contemporâneos nos bombardeiam constantemente com novos estímulos sensoriais, à medida que dispersamos a atenção por múltiplos aparelhos digitais na maior parte do dia e, frequentemente, da noite, que está sendo encurtada pela concentração nesses dispositivos.”
Ainda segundo a pesquisadora, aprender a se concentrar é um desafio essencial, mas cada vez mais difícil, principalmente em uma cultura em que a distração é onipresente. Em relação aos jovens, a atenção está ao alcance de quem a capturar primeiro. E o mundo digital faz isso.
Além dos estímulos sensoriais, ao assistirmos um filme, nosso cérebro também reage de formas diferentes às sensações.
Filmes de comédia, por exemplo, melhoram a sensação de bem-estar. Já os filmes de terror e true crime, gênero que aborda crimes que de fato aconteceram, segundo a psicóloga alemã Birgit Woltz, fazem as pessoas se sentirem mais vivas e aumentam o nosso nível de adrenalina.
Portanto, ao ver um filme em que há um crime envolvendo uma morte, nosso cérebro interpreta essa experiência como real e libera adrenalina no nosso corpo, fazendo com que tenhamos a sensação de ter sobrevivido ao perigo e nos sintamos bem com nós mesmos.

Imagem: Reprodução/Netflix
É possível dizer então que nós gostamos do gênero "true crime" porque ele nos faz sentir vivos?
Na realidade, esse não é o único motivo para preferirmos ver um filme que trata de um crime real, ao invés de simplesmente irmos atrás de documentos e informações sobre o caso.
De acordo com o psicólogo Gustavo Mano, que também é pesquisador na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, há uma explicação para que isso aconteça:
“Um crime grave é um ato que instaura uma ruptura tão profunda com o laço social que muitas vezes é insuportável encará-lo de frente. Acabamos, para isso, nos valendo de mecanismos defensivos que operam no sentido de diminuir o mal-estar derivado dele"
Ou seja, apesar de sabermos que a situação retratada no filme realmente aconteceu, ainda é possível diminuir o impacto que isso causa em nós. Justamente porque conseguimos associar o filme com a ficção, fazendo com que o nosso cérebro interprete o enredo como algo menos grave do que de fato é.
Mas e as HQs?
A insatisfação dos fãs de literatura em relação às adaptações já acontece há muitos anos. Mas como isso funciona ao inverso? Ou seja, como pensam as pessoas que preferem o filme ao livro?
Aqui, encontramos duas visões diferentes e complementares sobre o mesmo assunto:
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Yasmin Santos, assistente social de 25 anos, nos contou que embora goste muito do universo dos super-heróis e também de ler, os filmes são a melhor opção para ela. Não só pelo seu interesse na leitura ter surgido primeiro através deles, como também por serem uma forma mais rápida, prática e econômica de se conhecer uma história, com todo o conteúdo sendo entregue em um período de mais ou menos 2 horas;
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Lucas Timbó, estudante de Produção Audiovisual, diz que o filme aproxima mais o espectador à uma imagem concreta, já que é mais fácil sermos tocados pelo que vemos.
Ao produzir um filme, deve-se pensar no ambiente, na trilha sonora e na iluminação, visto que todos esses aspectos buscam atrair a atenção do público-alvo.
Além disso, há também o fato de que ao vermos um filme, não precisamos prestar tanta atenção aos detalhes, podendo usufruir de um entretenimento e descansar ao mesmo tempo.
Sendo assim, é possível dizer que filmes não exigem tanto a nossa concentração como um livro.
O motivo para que isto aconteça é porque nos filmes, toda a parte visual já vem construída e não precisamos nos esforçar para imaginar como são as aparências dos personagens, ou mesmo o local em que estão.
Já nas HQs, apesar de muitos detalhes já virem ilustrados, ainda precisamos nos forçar a "preencher lacunas", já que não é possível ter tudo desenhado.
No fim das contas, é como se tivéssemos o nosso próprio Multiverso no mundo real, já que quando nos deparamos com um conteúdo, nós podemos decidir se queremos visualizá-lo em uma versão impressa, digital, em áudio ou em vídeo.
E de documentários a podcasts, cabe a cada um de nós apenas escolher.
Recomendações de filmes do gênero "true crime":
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A Menina que Matou os Pais (2021) - disponível na Amazon Prime Video
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Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (2019) - produção original da Netflix
Recomendações de filmes de super-herói:
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Coringa (2019) - disponível na Telecine
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Viúva Negra (2021) – disponível na Disney+
“Nós somos quem escolhemos ser. Por isso, escolha!” – Peter Parker/Homem Aranha.
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